Uma biografia é um exercício complicado, sobretudo quando o analisado ainda está vivo. Uma autobiografia o é ainda mais, já que o leitor desconfia que haja, forçosamente, uma auto-justificação. O Anticonformista, de Luc Ferry, não se enquadra em um caso nem em outro. Esta é provavelmente a primeira autobiografia em que o assunto principal é o pensamento. As entrevistas com Alexandra Laignel-Lavastine são uma formidável epopeia intelectual que ajuda o leitor a compreender melhor o que está em jogo nos debates dos dias atuais. Luc Ferry ousa não seguir as trilhas batidas dos ideais contemporâneos, tomando as vias mais penosas da coragem, da verdade e da justiça. Sem pertencer a clã algum, ele se posiciona na confluência de todas as correntes, à vontade para falar do que fez e de suas teorias, pois sempre se expôs nos confrontos do pensamento e da ação. Para além do engajamento religioso, sua visão de uma ética transcendente para nossa sociedade traz um sopro de esperança ao planeta. A obra de Ferry há muito faz com que as pessoas se questionem sobre uma salvação possível da filosofia. Agora, em seu livro definitivo, ele mostra a necessidade de um espírito libertário e antitotalitário para que isso ocorra.